Eu sempre achei que esse tal de homesick não iria me pegar. Eu já morei longe da minha família por muito tempo, então achei que já estava calejada o suficiente pra não passar homesick. Fora que quando me explicaram o que era homesick, deram a entender que apenas quem vinha pra cá adolescente ou estudar inglês, com um cotidiano bem diferente do que tava acostumado no Brasil, é que sofria de homesick, que não é o meu caso, né? Mas a minha homesick também não é bem a definição de home sick que todos me falam. E eu também estou tentando endendê-la.
“Kitty, mas o que é Homesick?” Bom, pelo que me foi explicado, homesick é quando você começa a sentir muita saudade de casa, começa a ficar doente, começa a ficar deprimido, etc e isso acontece por volta do quarto mês longe de casa, não importa em qual país você esteja. Adivinha só. Na data de hoje eu completo 4 meses de Canadá. Acho que é por isso que estou chamando de home sick apesar de não sentir falta de casa. Eu vou explicar o que se passa na minha home- sick.
Desde que eu cheguei aqui, a minha curva de satisfação com Vancouver não foi nem um pouco parecida com a das outras pessoas. Eu sou uma pessoa muito crítica e reclamona, mas eu me sentia muito mais reclamona porque todos ao meu redor estavam sempre maravilhados com a cidade, mostrando o quão linda ela é, o quão tudo aqui é perfeito e por mais que aqui seja lindo mesmo, eu estava mais me sentindo forçada a gostar de tudo do que realmente gostando de tudo. Se vocês me perguntarem do que eu não gosto, eu não consigo ser específica com todas as coisas que eu não gosto, assim como se me perguntarem do que eu gosto, também não sei responder.
“Ah, então você só quer ficar falando mal de Vancouver”.
Eu não tenho prazer nenhum em falar mal de Vancouver ou do Canadá, for that matter. Mas como eu fiz posts sobre todas as partes do meu processo, eu tenho que fazer esse post por mais triste que eu esteja. Faz parte do meu intercâmbio.
Bom, continuando a história, passei aí esses 3 meses que se seguiram na fase de acertar a vida aqui, conhecer as pessoas, fazer material pro canal, estudar, aprender coisas novas e acho que isso foi ocupando o meu tempo também a ponto de 90% das vezes que me peguntaram sobre como é aqui, eu respondi que era tudo ótimo também. A verdade é que é isso que todos querem ouvir, mesmo não sendo a verdade.
Outra coisa que sempre perguntam é sobre os canadenses. Se eles gostam disso, como eles fazem aquilo, como eles reagem com aquilo outro. E, sinceramente, é outra coisa que me deixa numa situação complicada pra responder porque eu ainda não conheci um número maior do que 10 canadenses em 4 meses no Canadá. Quando digo canadense, falo com pais canadenses, avós canadenses, com costumes enraizados canadenses, não com os costumes dos pais e avós imigrantes. Podem me dizer que os únicos canadenses do Canadá então são os First Nations. Ok, aí pior ainda. Não conheci nenhum, nem passando na rua.
Estar inserido num país onde você não conhece o que é o típico canadense porque ele é uma agulha num palheiro aqui é meio frustrante. A gente chega aqui, depois de pesquisar anos ás vezes, preparado pra se deparar com a cultura canadense, o jeito canadense. Cara, conheço a cultura chinesa, a cultura coreana, a cultura persa, a cultura indiana, mas a canadense tá em outro canto do Canadá que não aqui. Mas de fato, a cultura canadense é a multi-culturalidade.
Eu tenho tudo aqui. Eu tenho muitos amigos e conhecidos, tenho muitas pessoas que de fato se preocupam comigo e que me ajudariam se fosse necessário, tenho uma casa ótima, perto de tudo, a gente consegue se manter sem o dinheiro do Brasil, comprou tudo o que queria, já pagou todo o ano do college, converso mais com os meus pais hoje na internet do que conversava no Brasil, tenho o meu trabalho, o meu canal que tem um peso enorme pra mim, estudo o que eu amo que é acupuntura, aprendi coisas incríveis e amadureci horrores morando aqui (que eu achei que seria sofrido e não foi). O que eu não tenho é a sensação de pertencer aqui.
E por mais que isso leve tempo, por mais que homesick seja só uma fase, pra mim a coisa do não pertencer a algum lugar é quase espiritual. É quando você não tem uma religião porque não se identifica com nenhuma das linhas que te foram apresentadas e você quer não somente dar um nome para aquilo que você acredita como quer se inserir em um meio onde haja pessoas com essa mesma fé que a sua. Você sempre pode construir a sua fé sozinho, mas quando você quer pertencer a um grupo, não funciona assim.
Quando você sai do seu país de origem, muitas vezes é porque você não sente que você pertence aquele lugar, não se identifica, não se adaptou a vida lá. Tem gente que sai só pra viajar mesmo, para ter uma experiência no exterior, mas tem gente que realmente não se identifica, como conheço muitos brasileiros que não se identificam e não se adaptam ao Brasil. Vão para outro país e, ás vezes, para outros países que tratam o imigrante muito pior do que o Canadá trata. Do tipo que o imigrante precisa ás vezes mudar de nome pra ser considerado pra uma bolsa de estudos ou para um trabalho.
E aí você mora nesse país, não se identifica com o país também e como fica? Pra onde você vai? Você pertence a qual lugar? Entende onde eu quero chegar? O mundo é muito grande, dá pra tentar ir pra outros lugares, mas há vários fatores que nos impedem de ficar passeando por aí até acertar o lugar pra gente.
Não estou dizendo que a culpa do que eu estou sentindo seja de Vancouver. Pode ser como pode não ser. Sendo ou não sendo, eu sei que Vancouver não é o lugar certo para mim. Uma canadense que nasceu em Alberta e mora em Vancouver há 30 anos disse pra mim hoje que ainda se sente como uma “outsider” em Vancouver. Como se a cidade de fato não a abraçasse e não a permitisse se inserir, mesmo ela sendo canadense.
E eu sei que homesick passa, que é só uma fase. Que eu só tenho que ocupar a minha cabeça com outras coisas, mirar em outros objetivos mais pra frente ou até que a qualquer momento eu posso me mudar e ir para outra cidade em British Columbia ou até mesmo em outra província. Sei que pro Brasil EU NÃO VOLTO nem amarrada.
Home sick não é o fim do mundo. Eu tento sempre pensar que a vida aqui é boa, maravilhosa comparada com no Brasil e que eu quero poder criar os meus filhos aqui com tudo o que o Canadá tem de bom para oferecer. É isso que me motiva, apenas e eu posso estar em qualquer cidade do Canadá pra poder oferecer isso a eles.
Eu queria finalizar dizendo que pessoas que são próximas de mim só vieram me dizer que também passaram pelo homesick depois que eu expus que passei. Ou seja, não é mesmo uma coisa tão incomum mesmo pra pessoas mais velhas, que vieram imgirantes, com a vida feita, com dinheiro e tudo. E quando eu digo homesick é a homesick de saudade e a homesick de não sentir que o lugar é o seu lar.
Se você já passou por essa experiência de homesick, conte para a gente. Ás vezes quem procura por esse post precisa de uma palavra de conforto que eu, nesse momento, não consigo oferecer.
Inscreva-se no nosso canal para saber mais sobre dicas de intercâmbio: https://www.youtube.com/channel/UCBO0KGL9bDXmpw3RtWsBqZA
4 comments
Pesado, Kitty.
Mas é isso, a realidade nem sempre é o que esperamos, espero de coração que seja uma fase e você melhore, que consiga se inserir e se sentir parte daí, a gente sabe por tudo o que passou.
Eu sinto home sick, na sua definição, todo dia aqui em SP, o problema maior é que eu nasci aqui e me sinto fora da caixinha no meu próprio país… :/
Sei que nada que eu te disser vai melhorar muito, mas estou torcendo de coração para você, desejo seu sucesso e mais que isso, sua felicidade, pois você é uma pessoa muito querida, vejo sempre seus posts e vídeos, você gosta de ajudar! Achei linda sua atitude de não ter vergonha de expor o que sente, muitos imigrantes tentam sempre passar aquela imagem que ~está tudo bem, tudo lindo! ~ quando na verdade a adaptação é difícil pra muitos. Vendo tanta gente falando que ta tudo lindo, sempre vamos achar que os problemas só acontecem conosco e que talvez nós sejamos o problema, o que não é verdade!
Continue sempre essa pessoa transparente, um grande beijo e força!
Kitty, imagino que não deva ser fácil estar em um lugar que não sente como o seu lugar. Imagina é diferente você ir fazer um intercâmbio (meu caso) e saber que tem data para voltar, no seu caso ou as vezes em outros casos, nem sabe quando vai voltar e ver seus familiares. Nesses momentos o que precisamos é um abraço de um pai ou a mãe, as vezes o marido não supre essa falta rsrsrsrs. Mas fique firme e forte é uma fase, realmente, você está muito melhor que nós aqui no Brasil e acredito que daqui a um tempo você estará bem e se sentindo realizada!! Um abraço 🙂
Parabéns pelo texto, excelente! Estou em Vancouver há 1 ano e meio e desde que pisei aqui eu sinto isso. Entre os brasileiros eu me sinto uma ET porque para maioria que está aqui tudo é muito perfeito e quando eu falo que vou voltar para o Brasil assim que terminar meu college porque eu não gosto da minha vida em Vancouver me chamam de louca! Acho que é um pouco de que nós brasileiros às vezes enaltecemos muito o que é de fora e esquecemos de valorizar o que temos de bom e um pouco de orgulho de alguns brasileiros em assumir que o “sonho canadense” deu errado, então pra mim parece que algumas pessoas tentam forçar a gostar de tudo aqui porque “isso aqui tem que dar certo!”. Mas isso é muito particular e cada um sabe o que é melhor pra si. Eu nunca me senti em casa aqui e definitivamente não penso no meu futuro aqui em Vancouver. Mas enfim, minha opinião e é o que eu sinto. Parabéns novamente e boa sorte!
Muitas vezes o sentido da vida se esvai, mas nesses instantes é melhor pensar somente no hoje, pense no que fazer no curto prazo. Obrigue-se a se alegrar pelo êxito instantâneo. Conseguiu cozinhar o macarrão sem errar o ponto? Ótimo! Creio que está seja uma forma para tornar seus pensamentos mais firmes e menos suscetíveis à sensações de desânimo. O amanhã é incerto, o ontem já foi, viva somente o presente. Abraços