Existe um tabu quando se fala de depressão por si só.
Quando você fala “depressão no Canadá”, além de pagar de louco, também paga de desinformado, com problemas de adaptação e não tem razão pra ter depressão, afinal o Canadá é um paraíso, certo?
Errado.
Quem trabalha com saúde mental sabe que depressão é uma coisa muito comum e muito séria. Eu não quero entrar em todos os detalhes sobre depressão, até porque depressão pode ter mil e uma causas (como pelo frio, falta de sol, distância da família, dificuldade pra arrumar emprego, problemas com dinheiro, dificuldades de adaptação, quebra de expectativas, etc.), mas eu queria falar um pouco sobre a minha, que não tem nada a ver com isso.
Desde a época que eu estava homesick que não era bem homesick, eu notei que tinha algo de errado e eu não conseguia definir bem o que era. Estava no auge do verão, encontrava com os meus amigos 2 a 3 x por semana, já estava estudando acupuntura, trabalho para mim e para o Thiago estava ok, estava tudo certo. A verdade é que a minha vida aqui é muito boa e eu não tenho do que reclamar.
No entanto, esse sentimento me obrigou a ir até o meu médico de família pedir auxílio. As razões da depressão, pouco importam, apesar de eu já ter exposto isso umas 300 vezes aqui no blog. O que importa hoje é que eu vou falar sobre como foi o atendimento que eu tive, mesmo que por um curto período de tempo, dentro da saúde pública de British Columbia para tratamento psiquátrico.
Minha primeira consulta
Na minha primeira consulta com o meu médico de família, eu falei que estava com problemas de humor e ele me fez agendar um atendimento exclusivo de saúde mental. Não poderia ser feito junto com o atendimento normal de médico de família porque ele era mais longo e precisava que eu respondesse um questionário com perguntas a respeito de tendências a ansiedade, depressão, suicídio, esquizofrenia, entre outros.
Bom, antes de ir a esta consulta de saúde mental, eu comecei a tomar uma fórmula chinesa, que nem era pra questões emocionais e sim para a memória, mas mesmo assim já comecei a me sentir muito melhor. Quando cheguei no consultório do médico, eu já não tinha tantos sintomas de distúrbios de humor como quando fui pela primeira vez, mas mesmo assim, ele suspendeu a minha fórmula chinesa com toda a gentileza do universo (porque o meu médico de família é o máximo), alertando que misturado com o anti-depressivo que ele iria me passar, poderia ser letal e me passou uma dose bem baixa de um anti-depressivo.
Quando eu digo “me passou” é “me deu 4 caixas do remédio”. Eu fiquei até surpresa em ter saído de lá com todos os remédios que eu precisava tomar pelo mês, com tudo bem explicado sobre o remédio e ainda sem precisar pagar nada. Remédios aqui, até onde me contam, principalmente os psiquiátricos, são bem caros. Eu conheço bastante gente que pede para a família trazer os remédios do Brasil. E eu ganhei ali de graça. Marquei a próxima consulta para depois de 28 dias enquanto ia tomando os remédios dados.
Ele também me perguntou se eu queria fazer tratamento psicológico (que não aconteceria na clínica e sim, acredito eu, numa clínica específica de atendimento de psicólogos). Eu não sabia que eu tinha esta opção porque achei que psicólogo, assim como fisioterapeuta, era pago. Eu acredito até que seja ou que o MSP cubra apenas poucas sessões, mas eu disse que não precisava no momento, talvez no futuro.
No final das 4 semanas, fui lá novamente e pedi para suspender o remédio. Não que não tivesse feito efeito. O motivo não vem ao caso, mas ele ficou bem preocupado de eu largar o remédio, ficar sem o remédio, mesmo que o desmame fosse durante alguns dias e não súbito. Surpreendeu-me de novo quando ele apareceu com outras 4 caixas do remédio e disse que era para eu tomar durante alguns dias meia dose, mas caso acontecesse alguma coisa com o meu humor novamente, que era para eu retomar para o remédio.
Quem leu o post sobre a minha primeira consulta com a médica de família, sabe que eu a odiei, então dei uma sorte gigante de achar um médico de família tão atencioso quanto o meu médico de agora.
Se você precisa de atendimento psiquiátrico enquanto estiver morando no Canadá, corra atrás, encontre um médico que você realmente gosta e que te trate com carinho e atenção, por mais que os atendimentos possam ser meio corridos.
E digo mais: não existe nenhuma vergonha em se sentir triste morando num país de primeiro mundo. Isso acontece mais do que a gente imagina. Só não é mostrado no YouTube como tal.