Como eu mencionei no post de Medo de não conseguir imigrar para o Canadá, eu iria fazer um post exclusivo com o assunto do casamento em crise quando a gente mora no exterior. E quem melhor do que a Kitty, casada com o Thiago, para fazer um post sobre isso, não é mesmo? Quem conhece nós dois sabe do que eu estou falando rsrs
Lembrando que eu não sou psicóloga, não entendo nada de psicologia de casal, não tô aqui para dar conselhos profissionais sobre o assunto, apenas para contar as experiências das pessoas com as quais eu conversei e com que convivo e que passaram por crises no relacionamento e até separação.
Tem sido cada vez mais frequente o número de pessoas que me aparece dizendo que o casamento entrou em crise depois que o casal veio para o Canadá e muitos se separaram.
E não é gente que se casou apenas pra vir pra cá. É gente com 10, 15 anos de relacionamento estável no Brasil. E também não é exclusividade de quem veio só estudando e o outro trabalhando. É de gente que veio com o PR também.
A gente tem sempre essa impressão de que como sonhamos o Canadá junto com o nosso cônjuge, que estaremos juntos enfrentando todas as diversidades, mas ás vezes quem nós achávamos ser a nossa âncora, acaba se tornando o nosso pesadelo.
Mas calma, eu não estou dizendo que isso vai acontecer com o seu relacionamento! E quando eu questionei isso ao pessoal no facebook, muitos disseram que viram justamente o contrário: vários casais ficando ainda mais unidos. Bom, a experiência de vários inscritos meus tem sido diferente e as pessoas têm me procurado para contar as suas histórias.
Esse post, na verdade é um alerta. Porque a gente pensa em tantas coisas que podem dar errado quando planejamos vir para o Canadá, mas o casamento entrar em crise não é uma delas. Ouçam o que eu vou contar nesse vídeo, sentem com o seu cônjuge, discutam esse assunto pra que tudo fique acertadinho antes de virem para o Canadá e, assim como os muitos e muitos casais que desenvolvem um casamento ainda mais forte, você possa deixar o seu mais forte também.
Uma coisa que eu ouvi de uma das pessoas que me contou o seu relato é que a pessoa que ela era antes de chegar no Canadá e a pessoa que ela é hoje, 6 meses depois, são completamente diferentes. E o ex marido dela também. Todo processo de adaptação, seja porque mudou de cidade, de estado, de país, de língua, de trabalho, bom, tudo isso gera uma série de mudanças na gente. Vir para outro país e não mudar nada, não amadurecer nada é muito difícil. E ás vezes a pessoa que você se tornou não combina mais com a pessoa que o seu cônjuge se tornou. Mas faz parte da evolução pessoal de cada um e não necessariamente isso é uma coisa ruim. Assim como final de um relacionamento pode não ser uma coisa ruim também.
Então vou contar a historinha que eu ouvi repetidas vezes das pessoas que tiveram crises em seus relacionamentos aqui. E não adianta falar que acontece exatamente a mesma coisa no Brasil porque eu garanto que a intensidade das coisas aqui é diferente de no Brasil.
Casal que vem tentar imigrar, um fazendo college e trabalhando e o outro apenas trabalhando.
Tudo começa antes de vir para o Canadá. Porque, na verdade, o casal tem que segurar dinheiro, tem que abrir mão de muitas coisas, tem que começar a se preparar para mudar de vida e isso é difícil. Sem contar que a ansiedade de vir para cá, pode ser algo destruidor de ânimos. Tem gente que fica anos com a vida parada esperando conseguir vir pra cá e ás vezes o relacionamento acaba antes de botarem o pé no Canadá.
Normalmente o que estuda está sobrecarregado, não tem tempo pra nada pelo tanto que o college exige, ás vezes vira noites pra dar conta dos assignments, se sente cansado, exagera no café e no pouco tempo que sobra, acaba dormindo encostado em qualquer coisa. Lembrando que todas essas coisas são em inglês e provavelmente o emprego será entry level, que vai exigir ainda mais do corpo da pessoa. Muitas vezes a pessoa não está acostumada com esse tipo de exigência mental e braçal ao mesmo tempo, então além de tudo pode ficar com dores em lugares que ela nem sabia que existiam no próprio corpo. Se for mulher, tem chance maior de carregar consigo a responsabilidade da casa, então além de tudo isso, ainda fica paranóica cuidando da casa, de comida e de todo o resto que deveria ser obrigação do casal.
Quem ficou com o visto de trabalho, tem 2 opções: ou não conseguiu trabalho e fica em casa o dia todo (seja procurando emprego ou jogando video game ou remoendo o fato de que o estudante está trabalhando e ele não) ou trabalha o dia todo, chega em casa exausto, depois do cansaço mental e físico fora do seu idioma natal, normalmente foge para o video game, muitas vezes não consegue nem ter força mental para pensar em nada. E mais uma vez, se for mulher, tem mais chance de pensar na casa. Quem trabalha normalmente tem mais tempo livre (a não ser que seja aquele povo que trabalha 300 horas por semana, né?) então acaba saindo mais (se quiser sair, claro) ou passa mais tempo dentro de casa no vídeo game, Netflix e por aí vai.
Quem estuda fica chateado porque quem trabalha tem mais tempo ou porque o tempo que tem livre não coincide com o tempo livre de quem trabalha.
Chega no final do mês, existe a chance das contas não fecharem e aí começa a encheção de saco de dinheiro. Os dois se cobrando por dinheiro, tem que pagar college, tem que economizar com coisas básicas, se a mulher é do tipo que gosta de se cuidar e tiver que abrir mão disso, a auto estima vai lá pro brejo, tem que deixar de gastar na rua, aí todas as refeições têm que ser preparadas em casa, mas os dois chegam cansados em casa e ninguém quer preparar comida. O fato de ficar em casa, acaba com a vida social dos dois porque, a não ser no verão, normalmente as pessoas acabam chamando para programas que gastam dinheiro. Ficam os dois trancados dentro de casa comendo comidas congeladas e nada saudáveis. Em algum momento, a depressão bate em um dos dois. Neste caso, não tem como prever em quem. Quando chega neste ponto, começam as discussões de jogar coisa um na cara do outro. Não limpa, não faz nada, não tem tempo, obriga o outro a ficar em casa, se tiver no inverno, pior ainda, um dos dois está tão cansado que a parte íntima do casal fica prejudicada.
E falta tempo. E falta energia. E falta dinheiro. E falta empatia com o outro. Se o outro tem um pouco mais de tempo, energia e dinheiro e sai pra fazer alguma coisa sem o cônjuge, o outro pode ficar desconfiado que está havendo traição. E aí depois disso começa o ciúme. Ás vezes, pode até estar havendo traição e o cônjuge está tão atolado de coisas que não percebe.
Pode haver um choque nos papéis que os dois estão desempenhando. No Brasil, por exemplo, o homem poderia ser o provedor enquanto a mulher estudava, mas no Canadá os papéis se invertem e essa mudança pode afetar o casamento.
Uma outra coisa que eu vejo criando conflito interno e entre o casal é quando um gostou do Canadá ou da cidade onde estão morando e o outro não. Um deles quer voltar pro Brasil ou quer sair desesperadamente da cidade onde estão mas não podem por causa do college. Ou um se adaptou ao Canadá e o outro não. Seja porque não se acostumou com o frio, seja porque não conseguiu um emprego na própria área e não quis trabalhar com algo que ele julgasse “inferior” ao que fazia no Brasil…
Chegando perto do processo de imigração, começa o estresse de pra qual processo vai aplicar, como vai aplicar, quando vai aplicar. E se um dos dois tiver um inglês mais ou menos e tiver que tirar o CLB9, começa a pressão. Se ele não lidar bem com pressão, joga o pepino no colo do outro, afinal, grande parte das vezes dá pra imigrar por um cônjuge ou por outro.
Se houver filhos na história, o sacrifício passa a ser em prol dos filhos e não do casal. O casal vai continuar tendo os mesmos problemas, mas a chance de separação poderá ser menor porque ambos estão pensando nas crianças. Mas olha, eu já vi casais com filhos se separando aqui também.
Bom, hoje eu vejo que diante de tantas coisas loucas que acontecem com a gente aqui no Canadá que eu nunca esperei, o meu casamento é o que me mantém sã, apesar dos conflitos que todo casamento tem. Se vocês acharem que alguma coisa está ruim no Brasil no seu casamento, talvez seja uma boa realmente sentarem para conversar e talvez tentar uma terapia de casal antes de vir.